quinta-feira, 29 de agosto de 2013

O Seabird Cativa Mais Uma Vez Os Bons Ouvidos Com o Novo Disco "Troubled Days"

O Seabird está lançando o seu mais novo trabalho intitulado "Troubled Days".  A musicalidade indie misturada com o rock alternativo dão ares de sentimentalismo ao disco, e em outros momentos de agitação. Com baladas marcantes e riffs colantes, os norte americanos chegam com o terceiro álbum de estúdio mostrando ser uma banda criativa e madura, além de comprovar mais uma vez ser uma das melhores do gênero da atualidade.

A banda nasceu em 2004 na cidade de Independence, Kentucly nos Estados Unidos. O quarteto composto por Aaron Morgan no piano e vocal, Ryan Morgan nas guitarras, Micah Lenders no baixo e Aaron Hunt na bateria lançou em 2005 um EP de forma independente. A qualidade musical da banda chamou a atenção da gravadora EMI, que os contratou imediatamente. Em 2007, gravaram o segundo EP agora como contratados de uma grande companhia. A intenção era usar o projeto como prévia do disco de estreia que acabou sendo lançado em 2008. O primeiro disco se chamou  "'Til We See the Shore", e trouxe o single "Rescue", que frequentou por muito tempo as paradas musicais dos Estados Unidos. O ótimo trabalho serviu para que o Seabird conquistasse seu lugar ao sol no cenário do indie/rock americano. O segundo trabalho veio logo no ano seguinte. Em 2009 foi lançado o "Rocks into Rivers". O disco foi mais alegre que o anterior, com menos baladas e canções mais agitadas. O álbum apenas confirmava a força da música do Seabird. Com certeza, é um excelente disco de rock. Em 2010 lançaram o terceiro EP. A temática natalina do trabalho serviu para que não passassem desapercebidos naquele ano. Depois disto, a banda deixa a gravadora EMI para se tornar independente. O baixista  Micah Landers abandona o quarteto, se tornando agora um trio. A partir daí, deu-se inicio a gravação do terceiro disco de estúdio, o "Troubled Days"

Em julho de 2013, o Seabird lança de forma independente o "Troubled Days". Um disco marcado pelo tradicional piano de Morgan e suas baladas cativantes, sem abrir mão de faixas agitadas e vibrantes. Produzido pelo conceituado Paul Moak, o primeiro single escolhido para ser trabalhado é a faixa que intitula o álbum "Troubled Days".  A canção tem ótimos arranjos de guitarra, refrão colante e ainda um andamento contagiante. Com certeza a música mais propicia para representar o novo trabalho nas rádios americanas. Outros rocks vibrantes agitam o disco, como "We Can't Be Friends", "Love Suicide" (que lembra muito a pegada do The Killers, porém sem os sintetizadores) e "Find a Way" (em tom experimentalista). As arriscadas acontecem em "Stand Out", com palmas e anjos, que muito remete às canções religiosas americanas gospel e country. As baladas dão ao disco o sentimentalismo apaixonante característico do Seabird. A começar pela faixa que abre o álbum "Love Will Be Enough", com ataques rítmicos e harmonia imprevisível; seguida de "Pull You In", faixa lindamente moldurada pelos arranjos de guitarra. "Please Please" é outro bom momento do disco. Muito lembra as baladas do Keane. "Extraordinary" é linda, e ainda recebe os arranjos de acordeom, que se une ao violão, piano, guitarra e bateria. Música formidável. A melancolia fica por conta de "Something Better Change","Golden Skies" e a que encerra a obra "Palmetto Peach". Nestas faixas o piano soa forte e carregado de intimismo. Épicas.


Através de uma produção independente, o Seabird mais uma vez atesta a riqueza de sua musica, sabendo explorar com maturidade as faces agitadas e intimistas do rock. Um trabalho muito maduro, e musicalmente rico em produção e arranjo. É uma das obras mais interessantes de rock deste ano de 2013. Cabível à todos os momentos do dia a dia dos apreciadores da boa canção.

Baixe o disco na íntegra gratuitamente:
http://depositfiles.org/files/r0bwk4fqw


segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Os Arrais Cantam a Poesia da Fé em "Mais"

Com o disco "Mais", os irmãos André e Tiago Arrais surgem como uma das grandes revelações da música brasileira neste ano de 2013. A musicalidade refinada se traduz sobre letras de fé e formidáveis arranjos de violão, guitarra, teclados e violoncelos. Gravado nos Estados Unidos, o que seria um trabalho independente, atraiu a atenção da Sony que lançou o disco em Maio. O álbum ficou em 1º lugar geral no Itunes Brasil em menos de 24horas após ser disponibilizado permanecendo no topo por mais de um dia. A simplicidade das harmonias, o timbre suave das vozes e a fé em cristã de suas letras tem feito do álbum "Mais" o melhor trabalho seguimento do ano de 2013 até aqui.

André e Tiago Arrais são pastores; naturais de São Paulo residem nos Estados Unidos desde 2010. A mudança de país se deu pelos estudos. André faz mestrado em divindade e Tiago faz doutorado em antigo testamento e filosofia cristã, ambos em Andrews University. O primeiro disco aconteceu em 2007, com o título de "Introdução". Sua temática consistia na redenção em Jesus Cristo pela humanidade. Foi um álbum simples, de canções discretas e arranjos modestos. O trabalho não teve grande visibilidade.

Nos Estados Unidos, os Arrais começaram a gravação do segundo disco em Nashville, Tenesse. Gravado de forma independente, o trabalho "Mais"contou com nomes conceituados do cenário musical americano. Começando pela produção de Andy Gullahorn, que também contribuiu nos violões. Jeff Taylor assina os belos arranjos de piano e nas guitarras foram assumidas pelo prestigiado Stephen Mason do Jars Of Clay. Os vocais ainda receberam participações de Daniela Araújo. A fotografia da capa foi feita pela esposa de Tiago Paula Arrais.



Com o disco pronto, prestes ao lançamento a Sony faz um convite para os irmãos Arrais. Com o contrato fechado, a gravadora lança e distribui o disco por todo o Brasil. A temática do disco "Mais" fala sobre a realidade de sermos mais em Jesus Cristo e menos em nós mesmos. O álbum tem como texto base Romanos 8:37 que diz “mas em todas as coisas somos mais… por meio Daquele que nos amou. ” A musicalidade acústica, explora bastante os arranjos de violão, piano, guitarra e violoncelo. O estilo predominante da obra consiste no folk.

"21" é o nome da faixa que abre o disco. A faixa se destaca pela linda sincronia dos violões à percussão, além dos arranjos de cordas. É a maior musica do disco, com mais de 6 minutos.
"Mais" é faixa que dá nome ao trabalho. Os violão lembra muito a pegada folk de Josh White do Telecast.
"Não Fale" conta com os vocais de Daniela Araújo. A letra forte e conflitante versa "não fale que o conhece se O esquece em cada esquina/ não fale que O encontra nas suas ondas de fé e não na palavra". O disco se estabelece teologicamente contundente e claro. Destaque para a boa presença da bateria na faixa.
"A Voz" é um dos raros momentos em que André assume a primeira voz, e que também assina a autoria da canção juntamente com seu irmão Tiago. Mais uma vez conta com o vocal de Daniela Araújo. As percussões soam forte na metade da música, seguida pela ótimos arranjos de cordas.
"Rojões" é também cantada em primeira voz por André, que também assina a parceria de composição com o irmão. Uma das mais belas canções do disco.
"Oração" é marcada pelo piano de Andy Gullahorn. É a faixa mais adoracional da obra. Trechos como: "E que o meu nome morra com meu corpo, e que o de Cristo permaneça em tudo" ilustram bem a força da canção.
"17 de Janeiro" é outra canção que se une às mais lindas do álbum, além de ser uma das mais poéticas da dupla. A beleza lírica se mostram em versos como "Eu olhei a tristeza nos olhos e sorri" e "Da distancia avistei a alegria e a esperança/ das migalhas que desperdiçamos faremos janta". Destaque para o solo mais lindo do trabalho, feito por Stephen Mason do Jars Of Clay, com sua guitarra irretocável.
"Herança" é marcada mais uma vez pela boa sincronia de violões e percussão.
"Esperança" é de longe a melhor canção do disco. "No desapontamento a esperança, e vivo o presente independentemente do que passou". Um lindo arranjo de violoncelo e violino marcam a beleza da faixa. O mais lindo verso do disco está no refrão de "Esperança", quando versa: "se tudo mudou, eu abro as velas da embarcação na esperança que pela manhã avistarei o porto onde Te encontrarei"
"Saudade" fecha a obra. A única não autoral da dupla, de Stephen Foster & Fanny J. Crosby faz a linha dos primeiros hinos norte americanos. Com uma mixagem que se remete à um som ambiente, a faixa ainda recebe o dedilho de banjo.

"Mais" é uma obra que aponta a criatividade poética de mãos dadas com a fé. Canções sinceras e mansas, versam que somos mais importantes em Cristo do que longe d'Ele. Um disco de beleza ímpar, com sutileza nos arranjos e voz. Com certeza, um dos trabalhos mais coesos e maduros que ouvi recentemente.

Baixe o disco agora mesmo na integra gratuitamente
http://www.4shared.com/rar/J12q61YM/Os_Arrais_-_Mais__2013_.htm

terça-feira, 13 de agosto de 2013

O Peso e Atitude do Rodox em "Estreito"

Em meados de 2001, o líder e mentor da banda de rock mais popular do país da época Rodolfo Abrantes, abandonou o Raimundos em virtude de uma nova ideologia pessoal de vida. Após sua saída, motivada também pela sua conversão ao evangelho, veio a criação do Rodox, sua nova banda. Em 2002, lança o disco "Estreito" surpreendendo à todos pelas palavras afiadas e maduras, além de fazer um som mais pesado e experimental do que no Raimundos. A força das letras inflamadas junto ao hardcore pesado e visceral do disco, fazem do "Estreito" um trabalho de atitude, direto e preciso, tornando-o memorável e marcante.

Rodolfo Abrantes criou junto com seu amigo Digão o Raimundos no final dos anos 1980. Depois introduziram Canisso ao baixo e Fred à bateria. A banda estava formada. Fãs dos Ramones, o grupo fazia covers dos ídolos além de brincar com ritmos nordestinos incrementados ao rock. Em 1993 gravaram um fita demo e começaram a abrir os shows de nomes conhecidos como Ratos do Porão, Camisa de Vênus e Titãs. A demo foi parar nas mãos do dono da gravadora "Banguela Records" Carlos Eduardo Miranda, que assinou com o grupo e lançou o primeiro disco da banda em 1994. Letras cômicas e o chamado "forrocore" tornaram o Raimundos um sucesso imediato, repetindo-se no disco seguinte "Lavô, Tá Novo" de 1996, este chegando a marca de meio milhão de cópias vendidas. No ano seguinte, lançaram o "Lapadas do Povo", um disco bem mais pesado e mais sério que os dois anteriores. As vendas decaíram e a banda enfrentou uma séria crise entre os integrantes. Em 1999 gravaram o que seria o maior sucesso da banda, o disco "Só No Furevis", com a marca de quase dois milhões de discos vendidos. Ainda lançaram o "MTV Ao Vivo " em 2000, e novamente conquistando ótimas vendagens. Apesar de viver o melhor momento profissional da sua carreira, Rodolfo sofria com o vício de maconha, álcool e depressão. As brigas com os companheiros de banda passaram a ser mais frequentes após sua conversão ao protestantismo, por influencia de sua esposa. O vocalista anunciou com antecedência que após o término da turnê "MTV Ao Vivo"deixaria o Raimundos. Depois de abandonar a banda, críticas dos ex-companheiros de grupo e da mídia em geral não atingiram o agora cristão Rodolfo, que ainda tinha que cumprir o contrato com a gravadora, com mais dois discos a lançar. Daí surgiu a ideia de criar o Rodox, nome este que era um apelido de Rodolfo. Além de cumprir o contrato com a gravadora, seria a oportunidade de cantar suas novas ideias e fazer um som diferente que se fazia no Raimundos.

De inicio, o Rodox mais pareceu um projeto do que propriamente uma banda. Rodolfo se uniu ao Dj Bob, ao baterista Fernando Schaefer e ao produtor Tom Capone para criar o primeiro disco. Em 2002 lançou-se o "Estreito". As composições de letras diretas e inflamadas, respondem às criticas recebidas e cantam a transformação definitiva de Deus na vida do cantor. O que muito impressionou foi a qualidade dos versos. O que antes era somente um compositor cômico com rimas de duplo sentido, agora era maduro, firme e decidido. A própria canção que intitula o álbum ilustra bem isso: "O caminho que escolhi é um estreito/Até parece duro e espinhoso, mas é reto e perfeito". Em nenhum momento o cantor pareceu estar incerto da escolha que mudou sua vida, pelo contrário, seus versos são precisos e claros. Outro aspecto diferenciado do Rodox com o "Estreito" é a mudança brusca de som. Não houve a intenção maliciosa de alcançar o antigo público do Raimundos, mas de criar um novo. O som muito mais pesado ainda flerta com outros estilos, como reggae, new metal, rap e hardcore/punk, tendo como linha principal o hardcore. Ainda existe espaço para o experimentalismo eletrônico do Dj Bob com o uso de samples e sintetizadores.

"Olhos Abertos" abre o disco e é cheia de efeitos eletrônicos do Dj Bob, e soa uma mistura de rapcore com new metal muito interessante. As distorções pesadas e a levada agressiva da faixa correspondem ao conteúdo da letra, que versa a hostilidade contra o diabo, que é o alvo da canção. Representa muito bem o momento de Rodolfo. "Hoje finalmente, na minha mente você não respira mais!"
"Nao Lembro Mais" é um hardcore bem acelerado. Boas linhas de guitarra e uma letra formidável. O refrão com três vozes cruzadas se atravessam dando um sentido único. Versa a entrega total a Deus do compositor. "Já não sou mais eu quem está na direção."
"De Uma Só Vez" é um hardcore melódico com um riff marcante e andamento vibrante. Descreve toda a satisfação da nova vida com Deus e o desprendimento do passado. "Todo o passado é arquivo morto/Um peso inútil na memoria de quem viveu uma história igual"
"Ao Lado do Sol" é um dos melhores momentos da obra. Um hardcore/punk bem acelerado, a faixa rebate as criticas recebidas em trechos como: "Eu posso mudar sendo quem eu sou", e "Ser diferente é ser original". A frase mais marcante da faixa é "Nada se move quando a prisão é na sua mente". Letra brilhante!
"Continuar De Pé" é outra surpresa do disco. Um reggae com metais e grooves de baixo. A vontade de falar da nova fé e quebrar preconceitos se atestam em: "Atravessar tudo que eu ver pela frente/História sem final".
"Cego de Jericó" é outra faixa bem acelerada. Foi a primeira composição de Rodolfo após sua conversação. "É por amor que ainda existo, hoje renasço de Cristo.". Também contém mensagens evangelizadoras: "O poder do sangue de Cristo vai te levantar do pó".
"Dia Quente" foi o primeiro single do disco e foi bem tocada pelo país. A única faixa romântica do álbum, é cantada para a esposa do artista que o influenciou na conversão. "Só quem me conheceu doente, ver como estou melhor assim"
"Estreito" é visceral, enérgica e pulsante. É a faixa que mais bem rebate as criticas, e é a melhor letra do disco. "Pra você eu sou louco, pra mim você é cego!".
"Tres Reis" é um rap com efeitos eletrônicos. Tem participação especial do Rapper Xis e Falcão do Rappa.
"Quem Tem Coragem Não Finge" é única balada do trabalho. Totalmente acústica e confessional. Destaque para os lindos arranjos de flauta e violão.
"Horario Nobre" é uma crítica a mídia vazia, e um alerta para o despertar da influencia da televisão. Um trecho marcante é: "Sem moral, sua vontade é um comercial". Atribui a manipulação midiática a manipulação diabólica. A mais pura verdade.
"Quem dá mais" fecha o disco com muita atitude. Outra letra genial. "Me rotular é bem mais fácil do que tentar me conhecer / Ex-iludido, ex-frustrado, ex-vegetal, muito prazer!"

"Estreito" é um disco ímpar de rock and roll. É quase impossível achar um outro trabalho com este poder de letra confessional, rebatedora, decidida, madura, com fé e realística. A atitude do álbum está presente em cada faixa, e a musicalidade agressiva se mistura e se enriquece com experimentos eletrônicos e gêneros diversos. Em todo tempo soa contundente e claro. Não há espaço para faixas confusas nem letras imaturas. Em nenhum momento de Raimundos, Rodolfo Abrantes se mostrou tão genial e contundente em suas letras. A palavra cantada e gritada são as grandes expressões desta obra original e impactante do rock and roll brasileiro.


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sexta-feira, 9 de agosto de 2013

O Pop Contagiante de Jimmy Needham em "Not Without Love"

O talentoso norte americano Jimmy Needham mostrou seu pop cativante e criativo para o mundo em 2008, com o disco "Not Without Love". Com fortes influencias do jazz, blues e rock, o trabalho ganhou as rádios americanas com a ótima canção "A Breath Or Two", além de excelentes avaliações da crítica. O álbum foi um importante salto na carreira de Needham, pois foi através dele que o artista conseguiu seu espaço no cenário musical, com uma sonoridade descontraída e inventiva.

Nascido em 1985, o americano do estado do Colorado Jimmy Needham lançou seu primeiro trabalho de forma extremamente independente em 2005 com o título de "For Freedom". No ano seguinte, em 2006 o disco foi retrabalhado para ser lançado desta vez pela gravadora Inpop Records e com o nome de "Speak". O disco é bem simples, sem grandes arranjos e nem arriscadas criativas. Mesmo sem algo muito interessante, algumas faixas tiveram uma boa receptividade nas rádios, como "Lost and Sea" e "Dearly Loved" que foram bem tocadas. Em virtude da boa frequência do disco nas radios, a Inpop  decidiu manter o cantor no casting, apostando tudo no próximo disco, com uma produção mais profissional e melhor elaborada do que a do "Speak". Jimmy realmente justificava a esperança da gravadora, visto que era um artista com belas composições, um exímio violonista e um timbre de voz especial. Só precisava de uma produção competente. E tudo isso estava programado para o "Not Without Love".

Em agosto de 2008, Jimmy Needham lançou o excelente trabalho intitulado "Not Without Love", com a bela produção de Will Hunt. As letras abordadas também foram o ponto forte da obra, recebendo críticas como "o jogo de palavras inteligentes de Needham". Os temas variam basicamente entre fé e amor. A musicalidade é outro forte aspecto do disco. Uma fusão de gêneros tradicionais conotam-se em uma sonoridade cativante, e de rápida simpatia aos ouvidos. Jazz, blues e rock se misturam e resultam em um pop criativo e bem feito. O cantor é compositor de todas as faixas, e ainda assina duas parcerias.
"Come Around"  abre o disco fazendo o flerte pop/jazz. Os arranjos de guitarra e teclados nessa faixa chamam a atenção pela beleza e sincronia. Muito bem trabalhada na alternação de intensidade e silencio. Uma das grandes canções da obra.
 "A Breath Or Two" foi o primeiro single do disco, sendo muito bem tocada nas rádios americanas. Destaque para o ótimo violão de Jimmy e os ótimos arranjos de guitarra, seguidos da boa marcação da bateria. A estrutura harmônica da canção também é bem construída.
"Hurricane" já mais calma. Feita em parceria com o respeitado compositor e produtor Jason Ingram, tem uma melodia cativante e um refrão marcante, a faixa representa os bons momentos de balada do trabalho.
"Firefly" é maravilhosa. Com arranjos de acordeon, a forte marcação de piano e um belo violão como base, a faixa mostra bem a ousadia do disco. A música foi feita para a esposa de Jimmy.
"Forgiven And Loved" foi a segunda single do trabalho, sendo bem tocada mais em 2009. Ênfase para os arranjos sinfônicos da faixa.
"Before & After" é outro bom momento do disco. Com efeitos de bateria eletrônica e boas linhas de guitarra, também foi composta com Jason Ingram.
"Tossed By The Wind" é a mais criativa do disco. Sua harmônia é bem imprevisível, e seu ritmo é bem quebrado. Bastante acordes de tensão dão ares de blues e pop num mesmo som.
"Unfailling Love (Kelly's Song)" segue o flerte pop/blues da faixa anterior. Needham cantou essa canção no seu casamento para sua esposa. É um dos ótimos momentos românticos do álbum.
"Rend" é outra balada. Mais arranjada no piano, soou previsível demais.
"The Author" é a faixa mais pop do disco. Bela base de violão e mais uma vez as guitarras enfeitam com muita perfeição a canção. É a segunda parceria do disco, feita com Scott Davis.
 "The Great Love Story" fecha o disco com um som que muito foge da linha do "Not Without Love". O piano com arregimentação clássica dão a impressão de que se iniciou um outro disco. Embora a canção não seja ruim, marca o único momento ruim da obra.

Muitos discos de qualidade formidável ainda precisam ser descobertos. Vir à tona ao público carente de boas melodias. E com certeza, o "Not Without Love" é um deles, pois mostra um pop sem a aparência imatura, juvenil e vazia. O estilo é muito bem representado por esta obra prima de Jimmy Needham, e que me dá convicção para seguramente afirmar que é um dos melhores discos pop dos últimos anos.

Nunca ouviu Jimmy Needham? Então não perca tempo!
Ouça agora mesmo o disco na íntegra. Faça o download gratuito, clicando no link abaixo:
http://www.4shared.com/rar/3Ykd2NO7/jimmy_needham_-_not_without_lo.html


 

 

terça-feira, 6 de agosto de 2013

A Salvação do Rock Brasileiro Atual pelo "Sobre o Mesmo Chão" do Palavrantiga

Diante de um fastio inventivo e inovador do atual rock brasileiro, o Palavrantiga surge como a grande salvação do gênero no cenário musical do país. Com uma sonoridade única, a banda mineira/capixaba vem conquistando milhares de seguidores por onde passa, além do respeito e admiração da crítica especializada. O novo disco "Sobre O Mesmo Chão", lançado pela Som Livre  no final de 2012, é a mistura do rock com elementos da musicalidade brasileira, tendo um resultado cativante, ousado e belo. A banda é a mais nova expressão do novo; é a face criativa e madura do rock nacional, que se reinventa através de misturas de gêneros e traduções de fé e esperança.

Em 2007, após encerrar as atividades como banda de apoio da cantora Heloísa Rosa, a banda decidiu tocar as próprias canções. O Palavrantiga é Marcos Almeida (vocal, violões e guitarras), Josias Alexandre (guitarra), Lucas Fonseca (bateria) e Felipe Viera (contrabaixo). O intuito era fazer um rock na contra mão do mercado, sem refrãos chicletes, nem letras vazias, muito menos 3 ou 5 acordes para uma canção. O sentimento de criar, inovar e reinventar o rock brasileiro, unido à vontade de levar a esperança no canto era o que movia a banda. Em maio de 2008 o Palavrantiga lançou seu primeiro trabalho de forma independente. Um ep com 8 músicas produzido pelo talentoso Lucio Souza marcava o ponta pé inicial da carreira do quarteto. Com uma musicalidade incrível, o ep trazia um rock que flertava o folk, britpop e samba. As letras poéticas e profundas, versavam sobre fé e esperança. Realmente não parecia um trabalho de estreia de uma banda, visto nele uma chamativa maturidade musical e lírica. O projeto foi disponibilizado na internet despertando a atenção de milhares de internautas. O resultado foi a conquista de um espaço no cenário indie brasileiro e uma afoita expectativa pelo primeiro disco full, que veio em 2010 com "Esperar é Caminhar" pela gravadora Canzion. O disco foi masterizado no consagrado estúdio Abbey Road, e teve a produção assinada mais uma vez por Lucio Souza. Um sucesso de crítica e ótimas vendagens, a banda se destacou pela maturidade e som inovador, despertando o interesse da Som Livre, uma das maiores gravadoras do país.

Em novembro de 2012, é lançado o "Sobre O Mesmo Chão" pela Som Livre. Um disco envolvente, com sonoridade ousada e letras de temáticas mais amplas que as dos trabalhos anteriores. A musicalidade é uma formidável fusão de gêneros. Elementos do britpop, indie e samba são misturados culminando em um som bem abrasileirado, o que o vocalista e líder da banda Marcos Almeida chama de 'brasilidade'.

"Sobre o Mesmo Chão" abra o disco que a intitula. A introdução com distorções e de compasso marchante já apresenta a face inventiva da banda. Guitarras repicadas e a voz forte e inconfundível de Marcos versam a ideologia do quarteto em "A banda passou. O amor se espalhando ainda está"
"Sagrado" é uma forte crítica à desmoralização do sagrado. A letra afirma o pensamento de que para ser sagrado, se faz necessário antes ter no peito o sentimento de santificação daquilo que se quer sagrar. Destaque para o riif de blues à uma levada pop da canção.
"Branca" é a feliz união do samba ao rock, resultando em nenhuma das duas coisas. Há quanto tempo não se ouvia uma coisa dessas? Cabe ressaltar a harmonia imprevisível e os belos arranjos dos metais, que por ora, lembra muito os cariocas do Los Hermanos.
"De Manhã" é uma balada confessional que versam uma conversa com Deus. A beleza dos arranjos de guitarra dão a canção o título de uma das mais cativantes da obra. O lirismo poético é maravilhoso: "Distante daquilo que eu era, sem força, nem fé ou poesia. Me encosto no peito daquele que atende o meu grito"
"Rio Torto" é uma das mais inventivas do disco. De levada quebrada, arranjos de metais e uma harmonia anticonvencional fazem da canção uma obra prima do trabalho.
"Minha Menina" tem um riff deslumbrante de guitarra, e foi inspirada na vida de uma prostituta. A canção fortifica a ideia de esperança sobre a prostituição. Veja o trecho: "A esperança é a doce chuva que cai sobre ti".
"Boa Nova" é outra faixa que cativa pela poesia confessional. É a mais calma do álbum.
"Rookmaker" é uma espécie de hino do Palavrantiga, pois traduz a ideologia da banda, elaborada sob as ideias do escritor alemão Hans Rookmaker. De pegada contagiante, é a única não inédita do disco, sendo gravada originalmente no anterior "Esperar é Caminhar".
"Antes do Final" é simples e lírica. Canta o perdão antes que não haja mais tempo para isto. Destaque para o refrão de guitarras gritantes e bateria marchante.
"Meu Lar" canta a ideia de um outro lugar após a morte. O céu, o reino, ou o que o ouvinte quiser entender. A canção em nenhum momento impera uma crença ou uma ideia, pelo contrario, dá a possibilidade de quem a escuta cantar o seu próprio 'lar'.
"Partiu" fecha a obra da melhor forma. Com força, criatividade e ousadia. Guitarras bem arranjadas e uma bateria agressiva. Tudo no melhor estilo "Palavrantiga".

A bandeira do novo, do progresso e da criatividade musical ainda está de pé. Embora inúmeras bandas e artistas saturam o mercado com o mais do mesmo, o Palavrantiga carrega a bandeira daquilo que representa a verve de insatisfação do rock and roll, através de sua musicalidade original e madura. A esperança presente em cada faixa, e o desprendimento de uma canção de mensagem imperativa aproxima e conquista cada vez mais milhares de admiradores da sua música. E eu com certeza sou um deles.





Nunca ouviu Palavrantiga? Então não perca tempo!
Ouça agora mesmo o disco na íntegra. Faça o download gratuito, clicando no link abaixo:
http://depositfiles.org/files/mtcbjnoo5













sábado, 3 de agosto de 2013

A Onda Folk do "In Between Dreams" de Jack Johnson

O cantor e compositor havaiano Jack Johnson alcançou o auge da sua carreira em 2005, através do aclamado disco "In Between  Dreams", levando o álbum ao topo das paradas nos Estados Unidos, Canadá e Austrália. Em um mercado dominado há décadas pelo pop e o rock, um surfista de Honolulu chamou a atenção do mundo com canções descontraídas, em tons ensolarados e praieiro. A folk music dos traços rurais, com gaitas e banjos mudou de aspecto com a chegada do "In Between Dreams". O gênero passou a ter novas influencias, desta vez do litoral havaiano, e agora se representava pelo nome de Jack Johnson.

Quando tinha 17 anos, o então garoto Johnson sofreu um acidente que o impossibilitou de participar do torneio de surf no Havai. Foram 3 meses de recuperação e longe das ondas. Nesse tempo, começou a compor inúmeras canções influenciado pelo grande ídolo Bob Marley. Decidido a não ser um surfista profissional, ele se mudou para Califórnia onde foi estudar cinema, chegando a fazer 3 documentários, todos sobre surf. As trilhas sonoras eram feitas pelo próprio Jack, que chegou a ter um de seus documentários escolhido como o melhor do ano de 1997, pela revista Surfer. Em 2000 o amigo Ben Harper o indica para uma gravadora. Jack Johnson lança seu primeiro disco no ano seguinte, com o nome de "Brushfire Fairytales", por isso Ben Harper é considerado seu padrinho. O trabalho foi bem discreto, tendo uma boa receptividade somente na Austrália. Em 2003 lançou o segundo disco "On and On", sendo muito bem tocado e vendido nos Estados Unidos, Canadá e Austrália.

Em outubro de 2004 Jack Johnson entra nos estúdios Mango Tree para gravar o disco que seria o mais importante de sua carreira. O "In Between The Dreams" foi lançado em março de 2005 com a produção de Mario Caldato Jr. Na capa, uma mangueira que faz alusão ao nome do estúdio havaiano onde o trabalho foi gravado. O disco foi o mais vendido na Austrália, e ficou uma semana como o segundo mais vendido dos Estados Unidos. No Canadá alcançou a terceira posição no Top Álbuns. São marcas impressionantes se tratando de um disco de Folk music. Somente o pop e o rock dominavam (e ainda dominam) as paradas, sem muito espaço para outros gêneros. Os violões e as guitarras são do próprio cantor, além de compor sozinho grande parte das faixas. Merlo Podlewski assume o baixo e Adam Topol a bateria. A maioria das canções do álbum são tocadas pelo trio. O resultado é um trabalho cativante, com arranjos fantásticos de violão, soando tranquilo e sem frieza.

A faixa que abre o disco é o single "Better Together", com o ótimo violão de Jack fazendo os arranjos da canção. Ainda há espaço para um sutil dedilhado do piano de  Zach Gill.
"Never Know" é cheia de balanço, e um violão bem ritmado. O refrão marcante ainda recebe de um toque da guitarra também tocada pelo cantor.
"Banana Pancakes" tem uma levada fantástica e um flerte harmônico de blues. Detalhe para as frequentes passagens de violão no decorrer da faixa.
Em "Good People" vê-se a melhor performance de Johnson ao violão. O riff com 'bend' na introdução e a guitarra rítmica dão a canção um tom de leveza e descontração.
A calma "No Other Way" segue bem a linha musical havaiana. Mais uma vez o violão faz o belo arranjo para a faixa.
A ótima "Sitting, Waiting, Wishing" é bem pegada folk e rock. A música foi a mais tocada do disco no Brasil, devido sua introdução na novela  "Como Uma Onda" da Rede Globo. Outra vez destaca-se os arranjos do piano de Zach Gill.
Sob os repiques de guitarra "Staple It Together" conota-se pelo seu balanço, fazendo um flerte rítmico com funk e soul. A única faixa em que Johnson substitui o tradicional violão pela guitarra.
"Situations" é a mais curta do disco, com voz em duas oitavas diferentes e um simples arranjo de violão no final. Destaque para o solo de guitarra que muito lembra o Dire Straits
A influencia de Bob Marley é sentida em "Crying Shame", fazendo a boa mistura do reggae, rock e folk.
A experimentação de novos instrumentos acontece em "If I Could" com o uso do acordeom de Zach Gill. A canção é bem serena marcada pelo destacado bangô de Adam Topol.
O tradicional Ukelele havaiano surge em "Breakdown". A canção traz o um sentimento de harmonia e sossego das praias havaianas.
A influencia da música brasileira acontece em "Belle". Uma bossa nova com arranjos de acordeom dão a canção um tom mais sofisticado. Pena ser tão breve.
"Do You Remember" é a faixa mais folk do disco. Bem no estilo Bob Dylan, tocada só voz e violão.
Encerrando o álbum, "Constellations" aparece em tom tranquilo e sossegado. Talvez seja a única canção que tenha pecada na ausência de um melhor arranjo, pois as vezes sôa vazia e previsível.

O melhor disco de Jack Johnson ainda é referencia para muita gente, principalmente quando o assunto é violão. Toda a musicalidade deste trabalho é feita sobre poucos instrumentos, e ainda assim soa inventivo e ousado. O "In Between Dreams" é um álbum tão respeitado, que depois dele todos esperam algo mais marcante vindo de Jack Johnson. Com certeza, é um excelente disco para os dias ensolarados e com ares descontraídos.


Ouça agora mesmo o disco na íntegra. Faça o download gratuito, clicando no link abaixo:
http://www.mediafire.com/download/39lw3bbhd3avryy/%282005%29+In+Between+Dreams.zip 
 



quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Poesia e Realidade Se Confundem no "Alucinação" de Belchior

Em meados da década de 1970 o Brasil se rendia a força da palavra cantada de um rapaz latino americano, sem dinheiro no banco, sem parentes importantes e vindo do interior. Belchior surgiu como o grande nome da música brasileira em 1976, quando lançou o consagrado disco "Alucinação". De letras cruas em tons poéticos, o cearense uniu o folk de Bob Dylan, o rock dos Beatles e o baião de Luiz Gonzaga em uma obra que marcou para sempre a história da musica brasileira.

Nascido no interior do Ceará, no município de Sobral em 1946, Antônio Carlos Gomes Belchior Fontenelle Fernandes, ou apenas Belchior, desde de criança já se apresentava na feira de sua pequena cidade com suas poesias e repentes. Sua mãe cantava no coro da igreja, seu pai tocava flauta e saxofone e seus tios eram poetas. Desistiu no último ano da faculdade de medicina quando decidiu ingressar na vida artística, se unindo aos amigos Fagner, Ednardo, Rodger Rogério, Cirino entre outros nomes cearenses do inicio da década de 1970. Em 1971 migra para o Rio de Janeiro em busca de mostrar sua música e gravar um disco. Naquele mesmo ano, foi campeão o IV Festival Universitário da MPB, com a canção "Na Hora do Almoço", cantada por Jorge Teles e Jorge Melo. O título despertou a atenção dos críticos para o então desconhecido compositor. Em 1972, a grande estrela da música brasileira Elis Regina grava "Mucuripe" no disco "Elis", uma poesia de Belchior musicada por Fagner. A gravação da canção elevou o nome do compositor e do parceiro Fagner. A pequena gravadora Chanceler deu uma chance ao rapaz cearense, lançando no ano de 1974 o primeiro disco "Belchior" assim auto intitulado. O trabalho é pequeno e bem simples. A voz anticonvencional do compositor não atraiu muita gente. Mas através da indicação de Elis Regina e do apoio de Roberto Menescal, Belchior chegou em uma das maiores gravadoras do país, e gravou pela Phillips o que seria um verdadeiro clássico do cancioneiro brasileiro.
Em 1976, o disco "Alucinação" foi lançado com a produção do respeitado Mazzola. As letras cortantes, realísticas e poéticas mostraram ao Brasil que surgia uma boa nova na canção brasileira, que ainda vivia as lembranças do tropicalismo, e a boa nova se chamava Belchior. O sucesso foi absurdo e imediato. Não foi preciso sequer muita divulgação da gravadora, pois o disco já tomava as vitrolas dos brasileiros como febre. Foram mais de 200 mil cópias vendidas e um globo de ouro, escolhido pelo público como o melhor cantor e pela crítica da época como o melhor compositor e melhor disco de 1976.  A musicalidade do disco é uma mistura de ritmos nordestinos com elementos do rock e do folk. Beatles e Bob Dylan sempre foram as grandes referencias de Belchior, e suas influencias são bem notáveis no álbum.


"Apenas Um Rapaz Latino Americano" foi a principal canção do "Alucinação". Um sucesso estrondoso em todas as rádios do país, sendo considerada seguramente como a música do ano de 1976. A faixa tem arranjos de gaita e guitarras de blues. A letra extensa relata a essência do compositor, de simplicidade comportamental e atitude intelectual. O respeitado e intelectualizado Caetano Velozo (assim considerado pela crítica) foi o grande sujeito de críticas da canção. Belchior chama-o de ultrapassado em tom sarcástico, no trecho "um antigo compositor baiano me dizia: 'Tudo é divino Tudo é maravilhoso'". O cearense ainda conclui a crítica musicada se opondo a ideia fantasiosa do baiano quando canta "Mas sei que nada é divino. Nada é maravilhoso". A forma direta de dizer o que pensa do compositor se evidencia também em versos como:

 "Não me peça que eu lhe faça uma canção como se deve
Correta, branca, suave, muito limpa, muito leve
Sons, palavras, são navalhas
E eu não posso cantar como convém sem querer ferir ninguém"
E a crueza da realidade tratada são versadas na mesma canção:
"Mas não se preocupe meu amigo com os horrores que eu lhe digo
Isso é somente uma canção
A vida realmente é diferente, quer dizer, ao vivo é muito pior"



Em "Velha Roupa Colorida" vê-se a poesia do compositor, que metaforiza o passado à uma roupa antiga, quando versa: "No presente a mente, o corpo é diferente, e o passado é uma roupa que não nos serve mais.
"Como Nossos Pais" é clássica. Considerada por muitos como a melhor composição de Belchior. É uma poesia atemporal. Versos como "Viver é melhor que sonhar", "Eu sinto tudo na ferida viva do meu coração" e  "Na parede da memória esta lembrança é o quadro que dói mais" ilustram bem toda a profundidade lírica da faixa.
Em "Sujeito de Sorte" mostra-se bem a verve nordestina do compositor. Guitarras gritantes ao balanço de algo que mescla  rock e baião. Com certeza tem a musicalidade mais interessante do disco.
"Como o Diabo Gosta" é curta e rebelde, com o lema cantado "sempre desobedecer, nunca reverenciar".
"Alucinação" é outra faixa formidável do disco. Firme e direto, como não sentir o impacto destes versos?
"Eu não estou interessado em nenhuma teoria
Nem nessas coisas do oriente, romances astrais
A minha alucinação é suportar o dia-a-dia
E meu delírio é a experiência com coisas reais"

 
"Não Leve Flores" é outra canção bem arranjada. Solos de guitarras e arranjos de sanfona enfeitam a faixa sob a bateria marchante e cativante. A poesia se faz presente em trechos como "Palavra e som são meus caminhos pra ser livre, e eu sigo sim!"
"A Palo Seco" canta o sentimento rebelde e desprendido do artista, quando versa "Eu quero é que esse canto torto corte a carne de vocês". A canção já havia sido gravada no disco anterior, e em qualidade de arranjo muito superior a esta do "Alucinação". Nesta regravação os arranjos dos teclados de José Roberto enfraqueceram muito a música. A delicadeza dos efeitos sintetizados soam em discordância com a agressividade dos versos. Uma das melhores canções de Belchior ironicamente soa fraca no melhor disco do artista. Coisas da música...
"Fotografia 3x4" é uma espécie de autobiografia cantada. Toda a trajetória de Belchior ate chegar ao sucesso de "Alucinação". Soa aqui mais uma faísca contra as ideias de Caetano Velozo. Desta vez, sem metáforas, mas bem direta : "Velozo, o sol não é tão bonito pra quem vem."
"Antes do Fim" fecha a obra ao som do velho e bom folk de Bob Dylan. E Belchior deixa seu último recado no álbum avisando : "Não tome cuidado comigo, que eu não sou perigoso. Viver é que é o grande perigo."

"Alucinação" é um disco que sempre estará no coração daqueles que amam a palavra inteligentemente cantada, com verdade, realidade e poesia. Seu lugar na discografia clássica brasileira sempre será irretocável, sendo digno de muito admiração, inspiração e memória.

Ouça agora mesmo o disco na íntegra. Faça o download gratuito, clicando no link abaixo:
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quarta-feira, 31 de julho de 2013

O Clássico "As Quatro Estações" da Legião Urbana

 
O disco mais marcante da Legião Urbana marcou definitivamente a música brasileira no final da década de 1980. Com letras que abordavam críticas sociais, amor e sexualidade, a sonoridade presente em "As Quatro Estações" ganhou o Brasil, chegando a ter o incrível numero de nove hits das onze faixas do disco sendo tocadas repetidamente pelas rádios do país. O resultado foi a marca de quase dois milhões de cópias vendidas e um espaço intocável na historia musical brasileira.

Maior expressão do rock brasileiro da década de 1980, a Legião Urbana surgiu em Brasília agosto de 1982, com Renato Russo nos vocais e teclados, Dado Villa-Lobos nas guitarras, Marcelo Bonfá na bateria e Renato Rocha no baixo. O disco de estreia "Legião Urbana" se deu em 1985, que trazia os hits "Será", "Ainda é Cedo" e "Geração Coca-Cola", esta última virou o hino da geração oitentista, vendendo 150 mil copias, e chamando a atenção de todo o país para os garotos de Brasília. No ano seguinte, veio o disco que consagraria a banda. O "Dois" vendeu mais de 1 milhão de cópias e emplacou canções inesquecíveis como "Eduardo e Mônica", "Quase Sem Querer", "Tempo Perdido", "Índios", "Andrea Doria" e "Fábrica"; todas bem tocadas nas rádios brasileiras. Este disco tornou Renato Russo a voz de uma geração, despertando a admiração da crítica para a poesia do vocalista. Existia algo a mais que distorção e rebeldia na então novata Legião Urbana; havia uma revolta, um protesto, uma visão política, um líder. O terceiro álbum veio em 1987. Intitulado "Que País É Este 1978/1987", o disco trazia composições antigas de Renato ainda na época do Aborto Elétrico (banda anterior à Legião Urbana que o vocalista liderava), e músicas gravadas para o "Dois" que não entraram no disco, em virtude da desistência da gravadora da realização do que seria álbum duplo. Com letras mais juvenis e aproximação com o punk rock, o disco se destaca nas clássicas "Que País é Este" e "Faroeste Caboclo", além das baladas "Eu Sei" e "Angra dos Reis". Como no segundo trabalho, foram mais de 1 milhão de discos vendidos, comprovando a força fonográfica da banda.

A consagração definitiva ainda estava por vir. Em julho de 1989 o quarteto retornava aos estúdios para a gravação do trabalho mais cultuado da banda. "As Quatro Estações" mostraria toda a intelectualidade do líder da 'Geração Coca Cola' pelas suas críticas sociais, todo seu romantismo pela sua  poesia lírica e toda sua autenticidade quando assumiria sua bissexualidade. Em outubro, sob a produção de Mayrton Bahia, o lendário "As Quatro Estações" foi lançado.  Agora não mais um quarteto, Renato Rocha foi expulso devido à desentendimentos com os membros, particularmente com o baterista Bonfá. Devido ao fato, as linhas de baixo foram regravadas por Dado Villa-Lobos e Renato Russo, tornando o álbum da Legião em que o vocalista mais participa como músico , assumindo em muitas canções baixo, violão, teclado, guitarra e até gaita. Todas as letras do disco são de Renato, e musicadas pelo trio Russo, Bonfá e Dado, com exceção de "Monte Castelo" em que o vocalista assina letra e música. O trabalho também marca a primeira experimentação com novos instrumentos. Dado Villa-Lobos toca bandolim em duas faixas e Renato Russo divide as gaitas com Bonfá em "Sete Cidades".

A faixa que abre o disco é a confessional "Há Tempos", em que o vocalista demonstra seu sentimento após  descobrir ser um portador do vírus HIV, em que versa "E há tempos são os jovens que adoecem; E há tempos o encanto está ausente, e há ferrugem nos sorrisos". Renato Russo nunca assumiu publicamente ser portador da doença, talvez por isso a canção seja cantada praticamente na segunda pessoa. O segundo verso da canção "muitos temores nascem do cansaço e da solidão" foi retirado de um evento católico em que a prima do vocalista participou em Portugal.
 "Pais e Filhos" é a principal música do disco e uma das mais importantes da banda. Seu refrão se tornou lema dos fãs: "É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã. Porque se você parar pra pensar na verdade não há". Nota-se também aqui um sentimento forte de incerteza do futuro, proveniente de um fato e também dos reflexos do HIV que afligia o artista, que se evidencia no trecho "Quero colo! Vou fugir de casa! Posso dormir aqui com vocês? Estou com medo, tive um pesadelo". Com uma pegada blues, cabe destacar o riff do violão  de Renato e os solos da guitarra de Dado decorrer da canção. Realmente uma obra prima aos ouvidos.
A experimental "Feedback Song For A Dying Friend" mescla o peso do rock com a musica oriental, sob distorções de heavy metal unida a um final de música árabe. A letra poética carrega traços do lirismo mediaval, como em "Seus olhos chispantes podem retalhar minha pele bárbara"
"Quando o Sol Bater na Janela do Teu Quarto" representa um dos melhores momentos da obra, versando sobre a esperança e atitude. Há espaço até para a introdução de uma frase em que Russo leu em um quarto de hotel, no livro de Doutrina Budista. O trecho é "Tudo é dor, e toda dor vem do desejo de não sentirmos dor". A musicalidade é a mais simplória do disco, não sendo isto uma fraqueza da canção.
A longa "Eu Era Um Lobisomem Juvenil" soa confusa e poética. Os pensamentos soltos e incertos do compositor se atestam em trechos como "não consigo ver sentido no que sinto" e "nem eu mesmo sei direito o que está acontecendo". A música se configura sem nenhuma linha pensamento exata, mais parecendo um desabafo descomprometido com o nexo. Destaque para os teclados do próprio Renato Russo no fim da canção e os arranjos de bandolim de Dado.
A intensidade e atitude da Legião Urbana estão perfeitamente simbolizadas em "1965 (Duas Tribos)". A postura crítica e política da banda são bem mostrados nessa canção, que canta a tortura da ditadura, e os outros aspectos impostos do regime sobre o povo. "Cortaram meus braços, cortaram minhas mãos, cortaram minhas pernas num dia de verão" ilustram bem a faixa. Renato assume o baixo e cria uma linha bem interessante para a música.
"Monte Castelo" é outra música épica do álbum. Mescla trechos bíblicos do apóstolo Paulo com a poesia lusitana de Camões. Renato dá aos versos a harmonia perfeita que os evidencia de forma bela. O vocalista assume as guitarras da canção, sendo a primeira e única vez que Renato toca este instrumento em um disco.
"Mauricio" se destaca pelos sintetizadores, órgãos e arranjos de bandolins. Bem no estilo A-ha e Phil Collins. É claro que a harmonia da canção é completamente diferente dos estilos citados, dando assim a sua originalidade e personalidade de Legião Urbana. Maurico foi um ex-namorado do vocalista.
"Meninos e Meninas" demonstra a autenticidade do compositor, que assume sua bissexualidade versando "E eu gosto de meninos e meninas". Destaque também para a criativa estrutura harmônica imprevisível da faixa.
"Sete Cidades" e "Se fiquei Esperando o Meu Amor Passar" fecham o disco com o romantismo poético de Renato. A primeira as gaitas são tocadas por Bonfá e Russo, e a última as guitarras são tocadas pelo vocalista, deixando Dado no baixo. Com levadas praticamente iguais, as faixas mostram bem a potencia vocal do cantor, indo dos faucetes aos agudos rasgantes. Concluem o álbum com chave de ouro.

"As Quatro Estações" é a feliz união da crítica política, poesia e sentimentos intimistas sob à energia do rock brasileiro. Não existem discos iguais, nem sequer parecidos com este. É único e original. Nem a própria Legião Urbana repetiu o formato do álbum. Renato Russo já disse diversas vezes que este era o melhor disco da banda, e o que ele mais se orgulhava de ter gravado. Seguramente, um clássico absoluto.





Ouça agora mesmo o disco na íntegra. Faça o download gratuito, clicando no link abaixo:
http://www.mediafire.com/download/b26afdmn4jnssph/1989+-+As+Quatro+Esta%C3%A7%C3%B5es.rar 
 
 
 

segunda-feira, 29 de julho de 2013

A Psicodelia e O Pop de "Cosmotron" do Skank

Há dez anos atrás, o cenário musical brasileiro era surpreendido positivamente pelo épico disco "Cosmotron" da banda mineira Skank. O estereótipo futebolístico, dançante e festivo do grupo, foi radicalmente controvertido pela nova sonoridade que o quarteto adotava, o psicodelia flertada ao pop. O intuito era fugir dos caminhos óbvios do rock popular, incrementando o psicodelismo fundido ao pop, evitando assim uma rejeição radiofônica. A aposta deu tão certo, que o disco chegou a vender mais de 200 mil cópias, sendo aclamado pela crítica e pelo grande público. Os hits "Vou Deixar" e "Dois Rios" emplacaram rapidamente nas rádios de todo o país, além de mais duas canções do disco frequentando o top das paradas. Entenda como o Skank conseguiu popularizar o rock psicodélico e se conceituar definitivamente como uma das maiores bandas de rock brasileiro.

Em 1993, quatro mineiros  apareceram para o país vestidos de camisetas de clubes de futebol, tocando uma mistura de rock, reggae, ska e dub.  O disco era "Calango", com letras que abordavam em grande parte os temas sociais com uma certa ironia. O sucesso foi certo. Mais de 1 milhão de discos vendidos rapidamente em todo o país. Em 1996, o álbum "Samba Paconé" atingiu a impressionante marca de 2 milhões de cópias vendidas. O Skank era a banda de rock mais vendida do Brasil, e vista como a grande novidade pop do país. Diante do estrondoso sucesso que faziam, notou-se uma necessidade de amadurecimento do som. Daí surge o "Siderado" em 1998; um trabalho com mais experimentos eletrônicos e até a balada orquestrada "Resposta". Realmente o Skank estava mudando. O disco vende 750 mil cópias, se mostrando ainda assim como tendo ótima receptividade de público, rádio e crítica. A banda chaga nos anos 2000 como a mais popular e mais vendida banda de rock da década. Em 2000 o quarteto lançam o "Maquinarama", que transmitia claramente o espírito do Skank procurando uma nova sonoridade. A novidade desta vez surgia no abandono dos tradicionais metais, e um tímido flerte com o psicodelismo. Realmente não foi um bom disco. Soava inseguro, sem uma linha definitiva de som, e sem um grande hit para diluir o trabalho pelas rádios.  As vendas foram insatisfatória, não chegando à sequer um terço do trabalho anterior "Siderado". Aproveitando a onda dos lançamentos ao vivo, o Skank fez o "MTV Ao Vivo em Ouro Preto", reunindo as grandes canções dos 5 discos gravados da banda, e ainda uma inédita, esta foi "Acima do Sol", uma balada que emplacou o disco nas rádios brasileiras, recolocando a banda no top das vendagens dos discos e reconquistando seu espaço no grande público.

Em 2003, com a produção de Tom Capone e do próprio Skank, a banda lança o "Cosmotron". O álbum foi uma mudança definitiva na musicalidade do quarteto. "É nítido, direto e inquietante / Eu diria totalmente extravagante". Os versos iniciais de "Supernova"  que abrem o disco representam com fidelidade a nova sonoridade do Skank. Mantendo a ausência dos metais, a linha fundamental do disco foi a psicodelia, com flertes eletônicos e pop. As letras abordam temas relacionais com linguagem mais abstrata e metafórica, deixando-as com um aspecto maduros e contundentes. A sonoridade do "Cosmotron" se baseia na forte influencia do Clube da Esquina, Oasis e Beatles. A mudança e o experimentalismo do disco poderiam afastar o Skank do grande público, das paradas e consequentemente desaguar e um novo fracasso nas prateleiras. Para isso, o disco trouxe duas canções pop de fácil e rápida apreciação radiofônica, a single "Vou Deixar" que ficou no topo das paradas durante todo o ano de 2003, e "Amores Imperfeitos", que também foi bem tocada nas rádios do país. O psicodelismo eletrônico surge na faixa que abre o disco "Supernova", "Pegadas na Lua", "Nômade" (com trechos falados em árabe) e "Formato Mínimo", esta última canta uma interessante história de um casal sob dois ângulos diferentes, o masculino e o feminino. A psicodelia  britânica se percebe em "Por Um Triz", "Resta Um Pouco Mais" e "Um Segundo". As baladas psicodélicas ficam por conta da surpreendente "Dois Rios", que foi muito bem recebida nas rádios, e "As Noites". A eletrizante "Os Ofendidos" realça a essência efervescente da banda, com uma pegada forte, distorções e vocal em eco, e um destaque até para os arranjos de órgão.  Outras surpresas como "É Tarde" e "Sambatron"  encorpam o disco, com uma mistura bem inventiva de bossa nova com elementos eletrônicos.

Para quem se lembra de 1986, três discos marcaram para sempre o rock brasileiro naquele ano. "Dois" da Legião Urbana, "Selvagem?" dos Paralamas do Sucesso e "Cabeça Dinossauro" dos Titãs formaram a trinca de ouro da discografia rockeira brasileira. Em 2003 quase vimos uma nova tríade de clássicos do rock 'brazuca'. "Ventura" dos Los Hermanos e "Cosmotron" do Skank ficaram à espera de um terceiro disco que completasse o que seria a trinca contemporânea do rock brasileiro. Infelizmente este disco não veio,  talvez por que as bandas de rock estavam saturando o mercado de lançamentos ao vivo e acústicos, caindo nos modismos baratos e nada originais. Com certeza, o "Cosmotron" entrou para a história e para o grupo seleto dos discos mais importantes da música brasileira.


Ouça agora mesmo o disco na íntegra. Faça o download gratuito, clicando no link abaixo:
http://depositfiles.org/files/gahbqmwuw 
 

quinta-feira, 25 de julho de 2013

O Fantástico "Ventura" do Los Hermanos

O disco "Ventura" da banda brasileira Los Hermanos marcou o fim de um fastio inventivo e influente do rock nacional. Foram praticamente 10 anos sem um album marcante e tendencial ao mesmo tempo. Até que em 2003 foi lançado o fantástico "Ventura", pela BMG (atual SonyMusic). O álbum trazia a conjunção do rock com a mpb, sem soar imaturo nem frio. O trabalho foi premiado com disco de ouro pela significante marca de 50 mil cópias vendidas, consagrando Marcelo Camelo como grande compositor da música brasileira e Rodrigo Amarante como exímio guitarrista pela pegada rock sob acordes de bossa e samba. O "Ventura" ainda teve a pré-produção vazada na internet, sendo o primeiro disco brasileiro a ser divulgado ilegalmente antes de seu lançamento oficial. Saiba mais sobre o album e todos os outros aspectos que tornaram "Ventura" um dos discos mais importantes do rock brasileiro de todos os tempos.

Os Los Hermanos surgiram no cenário musical brasileiro em 1999, com o sucesso estrondoso de "Anna Julia", seguido por "Primavera". Em todas as rádios do país,  "Anna Julia" grudando que nem chiclete, o álbum de estreia da banda alcançou a incrível marca de 300.000 copias vendidas. A introdução dos metais ao hardcore, incrementado à letras românticas foi realmente uma novidade chocante à época, porém muito bem sucedida, tendo o principal hit da banda regravada até pelo ex-beatle George Harrison. Depois do assédio, veio em 2001 o "Bloco do Eu Sozinho", cujo processo de produção foi inteiramente em um sitio, onde a banda se isolou no Rio de Janeiro. Com o trabalho pronto, o disco foi rejeitado pela gravadora que o considerou amador, além de não ter nenhum hit radiofônico. O hardcore deixou de ser a marca forte da banda, passando a ter um som mais indie e experimental.  A crítica se surpreendeu com a mudança radical do novo trabalho, e fez boas criticas ao disco. Mas nas prateleiras das lojas, o cd foi praticamente ignorado pelo público, chegando a inexpressiva marca de 35 mil cópias. Mas foi a partir dali que a banda definiria o som indie e experimental como a principal marca de sua musicalidade, incorporando elementos da música brasileira. O "Bloco do Eu Sozinho" foi uma espécie de 'projeto' de luxo para o "Ventura", embora não tenha sido gravado com esta intenção.

As baixas vendagens do "Bloco do Eu Sozinho" não atingiram em nada a banda, que entrou em estúdio novamente em 2003 para gravar o que seria uma das mais belas obras primas da música brasileira, o "Ventura".  De início, o disco se chamaria "Bonança", contudo, mudou-se para um nome com uma fonética mais forte, e de sentido amplo. O trabalho é caracterizado pelo já citado indie rock, junto ao experimentalismo inventivo com elementos musicais brasileiros. Tal junção de gêneros, ritmos e sons não soaram imaturos, muito menos frios. Há espaço para canções vibrantes e outras mais intimistas. A pegada rock estilo indie se faz presente nas faixas "Um Par" e "Último Romance" de Amarante, e nas 2 singles de Camelo "Cara Estranho" e "O Vencedor". O experimentalismo com elementos e gêneros brasileiros conota-se em "Samba a Dois", com um balanço e swing contagiante; "Do Sétimo Andar" com estrutura harmônica de bossa com arranjamento de metais; "Além do Que Se Vê" e  "Conversa de Botas Batidas" com flerte rítmico de samba; "O Pouco que Sobrou" que segue uma linha de bossa nova porém totalmente acelerada, com efeitos eletrônicos e um solo de guitarra ecoado. A proximidade com a música circense vê-se em "Deixa o Verão" e "Do Lado de Dentro"; até o andamento da jovem guarda são bem usados pela trupe carioca, "Tá Bom" e "A Outra" atestam bem essa linha. A enigmática "O Velho e o Moço" é um dos grandes momentos do disco, de compasso firme, porém dosado em consonância com os metais perfeitamente arranjados. A única balada fecha o "Ventura" como uma das melhores canções do Los Hermanos, "De Onde Vem a Calma" é doce e sutil, sem nenhum momento parecer enjoativa ou melancólica.
Uma curiosidade sobre o disco é que este teve sua pré-produção vazada na internet, saindo à público todas as faixas do álbum em qualidade amadora, porém servindo de prato cheio aos fãs da banda. Tal fato tornou o "Ventura" o primeiro disco brasileiro a ser liberado ilegalmente no Brasil.

O disco marca o fim de um fastio de praticamente 10 anos sem uma obra de influencia para as próximas gerações.  O ultimo disco de forte influencia até então era o "Da Lama ao Caos" de 1994, de Chico Science e Nação Zumbi. Já foi até eleito algumas como o melhor disco brasileiro de todos os tempos em diversos sites na internet. Exagero ou não, fato é que a partir do lançamento do "Ventura" novas bandas surgiram com a mesma ousadia experimental do disco, mesclando o indie rock à musica brasileira como samba e bossa nova. O incremento dos metais ao rock passou a ser feito com mais frequência também. Os Los Hermanos marcaram a música brasileira definitivamente com o "Ventura", mostrando-se um álbum atemporal e acima de tudo tendencial.


Em virtude de reclamações dos direitos autorais, o Levecanto não disponibilizará o download deste disco.

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Traduzido Por: Template Para Blogspot